segunda-feira, novembro 21, 2005

Comprometer-se

Engraçado como a gente se habitua as regras sem questioná-las esquecendo-se que o tempo passa e as coisas mudam. Nos acostumamos a ouvir gente dizendo, “eu sou assim” e passamos a acreditar que o ser humano não muda, que o que era verdadeiro ontem ainda o é hoje e vai continuar a ser amanhã. Assim, quando nos deparamos com alguma situação no futuro que nos force a mudar ficamos completamente perdidos e remamos contra a maré em vez de aproveitar e evoluir.

            Nesta crença de que não mudamos. Acabamos nos envolvendo ou não nos envolvendo com outras pessoas sem lembrar que o futuro pode alterar as circunstâncias atuais. Acabamos criando armadilhas para nós mesmos e depois sofremos muito para sair delas ou não saímos e acabamos maltratando-nos ou maltratando aqueles que nos cercam.

            Li umas ideias interessantes sobre este assunto num livro no final de semana passado. Falava sobre esta nossa falta de capacidade de entrar num relacionamento com a consciência de que não nos conhecemos assim também e por isto precisamos dar espaço para o inesperado no futuro.

            Costumamos nos comprometer com outra pessoa assim como somos hoje e aceitando a como ela é. Ao mesmo tempo comprometemos uma parte de nós que não conhecemos e que ainda está por vir, uma parte que ambos ignoramos. Comprometemos no nosso futuro uma parte desconhecida de nós mesmos com uma parte desconhecida da outra pessoa.

            Esquecemos que existe uma parte de nós que nos é desconhecida, uma parte imprevisível, incontrolável que no futuro poderá nos ligar mais fortemente ou nos separar. Mas, acabamos comprometendo também está parte.

            Num relacionamento ambos tem que ter consciência que estão comprometendo, agora no presente, uma parte de si que ambos conhecem que são capazes de dar a conhecer. Podemos comprometer o que somos hoje e o que seremos no futuro se evoluirmos hoje e tivermos as nossas capacidades ampliadas pelo outro. Mas, precisamos ter consciência de que o compromisso precisa nos permitir que sejamos fiéis a nós mesmos.

            Talvez, se tivermos consciência destas mudanças que podem ocorrer e da evolução que teremos como casal até que os nossos caminhos se separarem por qualquer motivo que seja, morte ou evoluções em sentidos diferentes, as nossas relações não acabem com um sentimento tão grande de fracasso.

 

            Livro Citado: A Coragem de Ser Autêntico, de Jacques Salomé.