quarta-feira, novembro 15, 2006

Crise na Mídia?

            Já moro fora do Brasil há oito anos mas ainda mantenho ligações, minha família está toda aí e preciso cumprir o meu dever cívico de votar no Presidente de quatro em quatro anos. Por um lado, tenho a vantagem de não ser bombardeado com as informações duvidosas presentes na nossa mídia, por outro, tenho que lutar para tentar compreender o que acontece.

 

            Nos últimos meses comecei a me chocar com a postura da imprensa brasileira com relação ao nosso quadro político. Mais especificamente com os ataques ao Presidente Lula. O mínimo esperado de um repórter é que tenha conhecimento das falácias que podem ser usadas para manipular informações para não caírem em armadilhas e abrirem os olhos da população então é difícil não se espantar quando os jornalistas passam a usar as mesmas para manipular a população. Caindo no ridículo de justificar as atitudes usando uma lógica no mínimo infantil. “Se há escândalo no governo quer dizer que ele é mau e temos que derrubá-lo. Apoiamos um candidato decente, não importa que os escândalos no estado em que ele governava foram varridos para baixo do tapete.”

 

            No meio de todo este jogo nós, os que deveriam ser informados, acabamos por perder. Ficamos sem saber se as CPI’s eram mesmo válidas, ficamos sem saber como foi o governo do Alckmin, ficamos sem ver os índices do que melhorou no governo Lula, ficamos sem saber como funciona verdadeiramente o Programa Nacional de Agricultura Familiar, o Compra Direta, o Bolsa Família. Há casos em que a família recebe dinheiro do bolso família para manter os filhos na escola; as escolas para garantir a merenda escolar compram produtos destas famílias que tiveram a produção financiada pelo Pronaf. No meio disto tudo os atravessadores são eliminados facilitando a vida do produtor e do comprador.

 

            O maior problema, e muita gente ainda não se deu conta, é que existe mais de um Brasil. Existe um Brasil dos pobres, dos miseráveis, existe um Brasil dos ricos, existe um Brasil da classe média e existe apenas um governo, que tem que dar conta deste país todo. Acrescente a tudo isto a nossa infantilidade política. Exercemos nossa direito democrático do voto poucas vezes ainda estamos amadurecendo, errando e aprendendo. Só espero que os prejuízos dos erros não sejam muito altos.

 

            Acabei por encontrar dentro da própria mídia, algumas vozes que se afastam do coro entoado pelos jornalistas. Não tenho certeza é se estas vozes são observados no Brasil ou se são taxados de subversivos pela mídia macartista que temos. Quando vejo o poder da comunicação ser posto em prática, acabo por lembrar do livro 1984, do George Orwell, acabo por lembrar também de outro George, o Bush, este que é o atual presidente dos EUA. Lembro de como ele caçou as vozes que ousaram questionar o porquê do 11/9. Ninguém disse que não era uma atrocidade, mas houve gente que ousou perguntar o porquê e acabaram sendo cassados pelos colegas da mídia.

 

            Vivemos na era da informação, a Internet veio alterar muitas certezas e ampliar o nosso universo. Democratizou a informação. Por um lado temos acesso a informação praticamente ilimitada, em contrapartida, não sabemos em quem confiar. Já vi texto do Kledir Ramil circulando com o nome do Veríssimo, já vi texto preconceituoso contra pagode circular com o nome do Veríssimo, já vi texto da Martha Medeiros circular com o nome do Jabor, já vi a propagação da ONG estritamente virtual “Amigos de Plutão” criada por um “jornalista” irresponsável e com ameaça de CPI no congresso feita por um político no mínimo ingênuo.

 

            Voltei a me chocar um pouco na semana passada quando recebi um e-mail com a história do Paulo G. Müller, o cara que, supostamente, bateu duas fotos antes do avião da Gol despencar. O e-mail trazia as fotos em anexo que eram snapshots da série de TV chamada “Lost”. Os mais crentes e desavisados propagaram o e-mail pela Internet e acredito que milhares, se não milhões, de pessoas caíram no conto. Para agravar um pouco mais, hoje recebi um trecho do Jornal de Uberaba com a mesma “reportagem” e a mesma foto. Agora estou num impasse: será que o jornal é tão ruim assim que não valida as fontes das “notícias” que circulam pela net ou será que o último e-mail nem é verdadeiro, o jornal nem existe, ou existe e nem publicou tal matéria.

 

            Tudo isto me lembra o personagem do “1984” corrigindo discursos passados do Presidente para que ele não caísse em contradição.

terça-feira, novembro 14, 2006

Livro: To Kill a Mockingbird

“Atirem em todos os gaios que você quiser, se conseguir acertá-los, mas lembre-se é pecado matar um pássaro poliglota.” No original, “Shoot all the bluejays you want, if you can hit 'em, but remember it's a sin to kill a mockingbird.” No Brasil, o livro chama-se “O sol é para todos.”

Este é o conselho dado para o sábio Atticus Finch para seu filho Jem depois de lhe dar uma arma de pressão como presente de Natal. A princípio Jem não entende o porquê até que Calpurnia, a empregada da casa, explica que os mockingbirds não fazem mal a ninguém, nem pessoas nem outras aves, elas simplesmente cantam. Assim acabamos por descobrir o porquê do nome do livro de Harper Lee.

Acabei de lê-lo esta semana. Esperava que a leitura fosse boa, mas não consegui deixar de me impressionar pela capacidade que Harper Lee teve ao retratar o modo de falar dos sulistas americanos.

A estória é narrada em primeira pessoa por Scout Finch e relata três anos da infância dela e do irmão Jem. Scout narra a infância dos três e o impacto da vida do pai, Atticus Finch, na vida deles. Os eventos acontecem nos EUA, no início do século passado, a escravatura havia sido abolida mas os negros ainda não eram considerados seres humanos. Atticus é o exemplo de retidão e luta pelos seus princípios enquanto tenta educar os filhos e dar-lhes armas para resolverem os problemas que encontram e que aumentaram ao longo da vida.

Atticus é escolhido para defender um negro acusado de ter estuprado uma jovem do condado de Maycomb, Alabama. Atticus, um exemplo de integridade, luta com todas as suas forças para desempenhar o seu papel na luta de classes. Ele acredita na igualdade dos homens e luta por ela. Através da ingenuidade inerente das crianças que percebemos em Scout somos agraciados com questionamentos simples sobre as convenções sociais e o racismo.

As duas crianças crescem com valores ligados a autenticidade, Atticus incita-as a pensarem por si sem seguir as convenções, mas ao mesmo tempo ensina-as que nem sempre vencemos ou temos que lutar, as vezes devemos ser tolerantes e lutar com a cabeça, aceitando pequenas derrotas que nos trarão algumas vitórias no futuro.